Tentativa pontual de empatia
A bizarra "linguagem de mentira" — e por que escrever crítica é outra coisa
Semana passada precisei contatar o suporte técnico do host do meu site, que apresentou um erro que eu não sabia, e ainda não sei, como corrigir. O cara que me atendeu não só não quis me ajudar como ainda me tratou com a empáfia dos que foram tocados pela graça divina e agora detêm um conhecimento (Java) que não está ao alcance de reles mortais fedorentos. Recorri à ouvidoria, que alegou que correções de erros estavam fora do escopo do serviço contratado.
O que me fascinou — e quase conseguiu extinguir minha irritação — foi a linguagem em que a recusa veio embalada. A empáfia do cara foi substituída por um discurso repleto de chavões que mesclava o juridiquês ao eufemístico, resultando numa peça grotesca que poderia estar num romance cômico sobre o mundo corporativo. É preciso, é claro, (a) evitar que sua empresa seja alvo do famigerado processinho e (b) dar a impressão de que há algo concreto sendo feito, sobretudo quando não há, e as duas coisas estão profundamente interligadas. A recusa se tornou ainda mais grotesca em comparação com a linguagem, que, por sua vez, se tornou ainda mais grotesca em comparação com a recusa. Ou seja: o discurso é esvaziado de sentido justamente porque é contradito pela ação, ou pela patente falta dela. Estou falando do host, mas poderia ser qualquer empresa. Qualquer uma. “Queremos ouvir você.” Não querem. “Sua opinião é importante para nós.” Não é. “Estamos aqui para você.” Não estão. “Entendemos plenamente sua frustração.” Não têm a mínima intenção de entender em parte, quanto mais plenamente, a menos que “entender” possa ser tomado numa acepção mais, digamos, casual. “Nosso compromisso sempre foi — e continua sendo — tratar todos os clientes com respeito, integridade e responsabilidade.” São palavras absurdas quando você se vê num enredo kafkiano em que ninguém quer ou pode lhe ajudar a solucionar uma questão prática, mesmo quando você tenta contratar o serviço que seu plano de hospedagem não cobre — só para descobrir que esse serviço não é oferecido, o que deixa tudo ainda mais surreal. Quando eu disse que já havia entrado em contato com o suporte antes, tendo tido, na ocasião, o mesmo erro corrigido, reconheceram que pode ter havido, de fato, uma “tentativa pontual de empatia”.
Sim. Suporte técnico funcional virou, no meu (obviamente ex-)host, “tentativa pontual de empatia”. Se parece absurdo demais para ser verdade, eis o print, que é eterno: